Título: Conectando comunidades rurais e ciência: bioingredientes da Mata Atlântica para carne cultivada
Autor(es): Gabriela Bussi de Oliveira, Maria Cecilia Pinto Marques, Fernando Antônio Anjo, Renata Bachin Mazzini-Guedes, Paula Toshimi Matumoto-Pintro, Carla Forte Maiolino Molento
Resumo:
A produção de carne cultivada apresenta-se como uma alternativa promissora à pecuária convencional. No entanto, a dependência de insumos de origem animal, como o soro fetal bovino (SFB), permanece um dos principais entraves técnicos, econômicos e éticos do setor. Com base nisso, esta pesquisa visa buscar ingredientes sustentáveis para meios de cultivo celular a partir de subprodutos vegetais da biodiversidade brasileira, promovendo uma abordagem alinhada à bioeconomia e à economia circular. A metodologia consistiu na realização de duas viagens de campo à região do Baixo Sul da Bahia na Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi, com o apoio local da Organização de Conservação da Terra (OCT). As atividades envolveram visitas a propriedades rurais, conversas com produtores e geração de vínculos com as comunidades locais. Nessas ocasiões, a proposta de pesquisa foi apresentada, promovendo um diálogo colaborativo com os produtores, seguido da coleta de amostras de resíduos vegetais, durante a qual também foram observadas diferentes formas de manejo e processamento dos produtos locais, e foram identificadas possibilidades de aproveitamento de materiais atualmente subutilizados. Na primeira etapa, foram visitadas as comunidades de Joaquim da Mata, o Assentamento Dois Riachões, a comunidade de Feira do Rato, a cooperativa COOPADESBA e uma propriedade em Ibirapitanga. Na segunda etapa, as visitas ocorreram em Piraí do Norte, no Assentamento Limoeiro e novamente no Assentamento Dois Riachões. Inicialmente, o foco estava nos resíduos do cacau (Theobroma cacao L.) — como cascas, placenta e películas das sementes — provenientes do processamento das amêndoas para a fabricação de chocolate. Contudo, em diálogo com os agricultores, ampliou-se a investigação para incluir também resíduos de cupuaçu, guaraná e açaí, considerando a diversidade produtiva regional e o interesse local na valorização de tais subprodutos. Além das coletas, foram realizadas ações de divulgação científica com estudantes do ensino técnico. Na primeira viagem, houve uma apresentação aos alunos do curso técnico em Agropecuária do Colégio Estadual Luís Navarro de Brito, enquanto na segunda, estudantes do curso técnico em Administração do CTEP também foram informados sobre os desafios e oportunidades relacionados à agricultura celular. As atividades de campo permitiram ampliar a coleta e o conhecimento sobre resíduos vegetais com potencial para aplicação em meios de cultivo celular, evidenciando a riqueza e diversidade produtiva do Baixo Sul da Bahia. O diálogo e a troca de saberes com as comunidades locais fortaleceram a conexão entre a ciência e a população, enquanto as ações de divulgação junto a estudantes técnicos ampliaram o alcance e a conscientização sobre as novas cadeias produtivas. Tais resultados fundamentam o avanço para as próximas fases de caracterização e desenvolvimento de insumos sustentáveis e promovem a inserção dos pequenos produtores brasileiros na agricultura celular. Agradecemos à FINEP, Edital Bioeconomia, pelo financiamento deste projeto, à Fundação Araucária, projeto NAPI Proteínas Alternativas, pela bolsa da primeira autora, e ao CNPq pela bolsa produtividade da última autora.