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- Cód. Trabalho: 42 | Palavras-chave: Psicologia histórico-cultural, Neuropsicologia, Fundamentos marxistas
- Título: As apropriações dos estudos neuropsicológicos de A. R. Luria nos últimos dez anos: avanços ou retrocessos?
- Autor(es): Marília Daefiol Herrero Gomes, Silvana Calvo Tuleski, Hilusca Alves Leite
- Resumo:
Alexander Románovich Luria (1902-1977) foi um neuropsicólogo soviético integrante da troika juntamente com Liev Semiónovich Vygotsky (1896-1934) e Alexis Nikoláevich Leontiev (1903-1979). Os três pesquisadores, liderados por Vigotski, buscavam a criação de uma nova Psicologia, alternativa com relação às correntes psicológicas existentes na época. Dessa forma, suas pesquisas e trabalhos culminaram no desenvolvimento da Psicologia Histórico-Cultural (PHC) fundamentada pelo Materialismo Histórico-Dialético (MDH) de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) (OLIVEIRA; REGO, 2010). A PHC postulou a existência de processos naturais do tecido nervoso, como as sensações, formas elementares de memória e atenção, mas também a existência de outros processos – mais complexos – que, para emergirem, precisariam de estímulos sócio-históricos e culturais, as funções psicológicas superiores, como a atenção dirigida e a memória voluntária. (LURIA, 2016).
Desse modo, os psicólogos russos propuseram um desenvolvimento subsidiado pela aprendizagem – tanto aquela institucionalizada nas escolas quanto a aprendizagem em casa, anterior à iniciação escolar – algo que foi de encontro a teorias que defendiam a maturação biológica ou o desenvolvimento puramente biológico de funções e habilidades cognitivas no ser humano. Vygotsky e Luria (1996) defendiam a ideia de que pela instrução ocorria um processo de reequipamento, por meio da apropriação de habilidades culturais. Este ocorreria a partir da transformação da natureza e da consequente e concomitante transformação do próprio ser humano através da utilização de instrumentos e signos. Nesse ponto, é possível notar a importância da atuação conjunta de aspectos sociais, culturais e biológicos na obra produzida pela troika (VYGOTSKY; LURIA, 1996, p. 98).
Além do desenvolvimento, pode-se sintetizar a proposta dessa teoria Histórico-Cultural a partir de algumas premissas: a primeira é relativa à necessidade da utilização do método genético nas investigações acerca do desenvolvimento, ressaltando a relevância de aspectos socioculturais no funcionamento cognitivo superior. A segunda aponta que as funções psicológicas superiores têm suporte biológico (baseiam-se nas naturais, elementares), mas que são passíveis de alterações substanciais ao longo do tempo. Tais mudanças só são possíveis devido ao funcionamento psicológico complexo estar pautado nas relações sociais de um indivíduo, imerso numa dimensão histórica e cultural. Por último, “qualquer atividade humana depende da mediação dos significados que foram historicamente acumulados e transmitidos às novas gerações” (HAZIN et al, 2010, p. 90).